1 Mês sem Mamãe

em quinta-feira, 26 de maio de 2022

Oi pessoal, quem segue lá no Instagram viu que eu perdi minha mãe recentemente. Gosto de usar o blog meio que como um diário, uma forma de guardar informações, lembranças, acontecimentos...
Então quero deixar aqui registrado o que aconteceu e como eu estou me sentindo.
Lá em Outubro de 2021 minha mãe precisou fazer uma cirurgia, ela estava com espessamento no endométrio e tinha indicação da histerectomia há algum tempo. Ela não queria fazer a cirurgia de jeito nenhum, fugiu da médica uns dois anos, até começar a sentir umas cólicas e sangramentos.
Ela fez a cirurgia, ficou uns dias no hospital por causa da diabetes e voltamos pra casa!
Minha mãe era diabética, não monitorava, não fazia dieta e tinha começado a usar insulina depois da cirurgia. Ela tinha muita resistência ao tratamento e um dia não usou a insulina, passou mal e fomos de ambulância para o hospital.
Assim como no meu parto, que foi cesárea, ela teve formação de seroma no pós cirúrgico, o que é normal e esperado, já que a incisão é feita em um local que tem bastante tecido adiposo e ela era gordinha.
O atendimento da socorrista foi péssimo, mas não pior do que dos médicos da emergência, que além de criticarem e nos chamarem de burras por ela não ter usado insulina no dia, um deles cismou que minha mãe estava com um abcesso, sendo que era o seroma.
Internamos outra vez, descobrimos que o seroma estava encapsulado, fez uma incisão para drenar, ela descobriu uma infecção urinária, tratou e depois de uma semana voltamos pra casa.
Depois de umas duas semanas, o seroma acabou, mas no local da incisão apareceu uma ferida.
Voltamos pra emergência, minha mãe com sinais de sepse (batimento acelerado e dificuldade de respirar), o médico entrou com o antibiótico.
No dia seguinte, a médica dela, a que fez a cirurgia, foi ver como ela estava e descobriu ela estava com Fasceíte Necrotizante, uma infecção gravíssima e com alta taxa de mortalidade.
Ela fez um debridamento, que é  a retirada do tecido necrosado, ficou no CTI uma semana e foi para o quarto.
Aí foram meses de melhorar e piorar, a ferida estava cicatrizando bem, mas o fígado estava ruim.
Por causa da diabetes, ela desenvolveu cirrose e com a infecção, ascíte.
A ascíte drenava na ferida e impedia de fechar.
Ao mesmo tempo que ela aparentava estar bem, que ela evoluía bem, iam aparecendo problemas.
Então ela acabou pegando uma dessas super bactérias de hospital, daquelas que não tem antibiótico e depois de muito sofrimento e mais uma semana no CTI, ela descansou.

Nós ficamos de 13 de Dezembro de 2021 até 21 de Abril de 2022 internadas, eu só saía pra trabalhar e no fim de semana trocava com meu pai.
Até o último segundo eu tinha fé que ela melhoraria, nós oramos muito e por muitas vezes eu acredito que fomos atendidas. Mas eu também acredito que todos temos nossa missão e nosso tempo, ela cumpriu a dela.
Minha mãe ficou 5 meses sem poder tomar um banho no chuveiro, só banho de leito, deitada, comendo comida de hospital, sem autonomia, usando fralda e sonda, sendo furada e tomando um monte de remédio. Chegou a ser entubada e ficou muito mal.
O maior medo da minha vida sempre foi perder meus pais, e no momento, minha mãe. Mas no último dia que eu fui visitar ela no CTI, ela mal falava, estava precisando de várias intervenções, fez hemodiálise... 
Ela já não estava presente e podendo fazer o que ela gostava, era injusto eu "prender" ela querendo ela viva só para não ter que passar pelo luto.
O hospital me ligou a tarde e avisou que ela tinha falecido, e eu me senti tranquila. Acabou todo sofrimento, a tensão, a ansiedade. 

Todos estão esperando que eu caia em mim que minha mãe morreu, o único luto aceitável é o que a pessoa chora descontroladamente e não consegue seguir a vida.
Eu perdi a pessoa que eu mais amava, minha companheira de passeios, aquela que eu ligava o tempo todo pra contar trivialidades, que eu mandava receitas e memes pelo Instagram, a pessoa que eu tirava dúvidas, pedia conselhos, conversava por horas e brigava muito!
Não existe substituto, e só eu sei a dor que é saber que eu vou ter que viver sem ela, sem ouvir a voz, as risadas, os abraços, o cheiro...
Só eu sei das coisas que eu não consigo voltar a fazer porque eu lembro dela, ou de estar no hospital com ela enquanto fazia.
Não é porque eu estou vivendo o luto sem demonstrar o sofrimento que eu não esteja sofrendo, ou que não esteja sendo difícil.
Não é porque eu não estou revoltada, com raiva ou pensando em como seria se não tivesse acontecido alguma coisa, que eu não sofro.

Sim, eu estou aceitando e me acostumando a viver sem ela. Sem drama, sem raiva. 
Eu fiz o melhor que eu pude, ela foi muito bem cuidada no hospital, ela foi amada no hospital e para mim, ela foi em paz.
Da equipe da limpeza, comida, enfermagem, nutrição e fisioterapia, nós conhecemos pessoas incríveis, que foram carinhosas conosco, que eu lembro com carinho. Nós tínhamos uma segunda família lá, pessoas que foram se despedir e prestar apoio, pessoas que eu nunca vou esquecer e que eu desejo o melhor.

Me entristece muito mais os planos que ela tinha e não vai poder realizar do que eu ter perdido ela. 
Que ela queria melhorar, mas o organismo dela estava muito debilitado.
São coisas que eu não gosto de pensar, que me deixam triste.

Minha mãe tinha muitos defeitos e muitas qualidades, nós brigávamos muito mas nos amávamos muito mais. Ela foi a melhor mãe que ela pôde, e eu eu fui a melhor filha que eu pude.
Eu quero lembrar dela sorrindo mesmo nos piores momentos, quero lembrar dos momentos felizes que passamos juntas, e que ela está em um lugar melhor, sem sofrimento, sem dor.

Eu e meu pai recebemos muito carinho, de pessoas próximas, de colegas, família, amigos. Muita gente preocupada com nós dois. 
Nós estamos bem, é difícil, doloroso, mas estamos bem.
Nós temos uns aos outros, e por sorte eu e meu pai nos damos muito bem. Eu sempre tive as coisas que eu fazia com a minha mãe e as que eu fazia com meu pai.
Como algumas pessoas queridas falaram, a dor diminui, ficam as lembranças boas e a saudade.

Nesse período eu aprendi muita coisa, e não tem nada mais cruel que a esperança e a saudade. Dois sentimentos muito difíceis.
E é isso que eu queria dividir e registrar: cada pessoa vivencia o luto de uma forma diferente e válida, que a dor passa, que a mamãe era uma pessoa maravilhosa e muito amada, e que sabia que era muito amada.
Vai passar, e nós vamos seguindo nossa vida do jeito que conseguimos, infelizmente, sem ela...

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